 
              A cotação manutenção elétrica é o primeiro documento técnico-comercial que estabelece o escopo, custos e requisitos de segurança para intervenções em instalações elétricas; uma cotação bem estruturada protege proprietários e gestores contra falhas, acidentes e não conformidades com NR-10 e NBR 5410. A seguir apresenta-se um guia técnico e autoritativo, detalhado e aplicável a obras, indústrias, prédios comerciais e condomínios, que descreve o que incluir numa cotação, como avaliar riscos, quais ensaios são imprescindíveis, como compor preços e quais cláusulas contratuais exigem atenção para garantir segurança, conformidade e redução de custos operacionais.
Antes de detalhar a estrutura da cotação, é importante explicar a finalidade técnica e gerencial do documento: ele deve evidenciar a análise do estado da instalação, prescrever medidas corretivas e preventivas, especificar testes de aceitação e entregar documentação que comprove conformidade. A cotação não é apenas preço — é plano de mitigação de risco elétrico.
Uma cotação eficaz descreve o que será feito, como será feito, quem executará e como a conformidade será comprovada. Ela deve ser detalhada para evitar omissões que gerem riscos ou custos adicionais.
Informe razão social, CREA da empresa, número da ART vinculada ao serviço, comprovantes de treinamento em NR-10 dos colaboradores, apólices de seguro (RC) e contatos de emergência. Exigir ART é prática obrigatória para responsabilidade técnica e comprovação de engenharia responsável.
Descreva a visita técnica obrigatória: medição inicial, coleta de documentos (planta unifilar, históricos de manutenção, laudos anteriores), identificação de dispositivos de proteção e pontos críticos. A visita permite estimar tempo, equipe necessária e riscos específicos, reduzindo incertezas na cotação.
Classifique os serviços em manutenção preventiva, corretiva e preditiva, descrevendo atividades por ativo (quadros, transformadores, motores, SPDA). Inclua procedimentos seguros de trabalho: isolamento, bloqueio e etiquetagem, aterramento temporário, permissão de entrada e controle de energia. Explique se haverá trabalho com equipamentos energizados (e justificativa técnica) e as medidas adicionais de proteção caso necessário.
Liste materiais com códigos e especificações mínimas (ex.: disjuntores com curva e Icu, bornes, cabos flexíveis, barramentos, elementos de proteção diferencial residual DR), prazo de entrega e condições de substituição. Identifique serviços terceirizados (ensaios laboratoriais, pintura anticorrosiva, testes em cabine primária) e prazos associados.
Defina relatórios de ensaio que serão emitidos: laudo de resistência de isolamento, medição de impedância de terra, teste de loop Zs, termografia, relatório de correção de não conformidades e certificado de conformidade assinado pelo responsável técnico. Especifique prazos para entrega de relatórios e formato (digital e físico).
Registre claramente o que não está incluído: obras civis, cortes de energia programados pela concessionária, substituição de cabos em eletrodutos fechados sem rota alternativa, importação de peças específicas. Inserir hipóteses evita reclamações por serviços adicionais.
Para avançar, deve-se priorizar os aspectos de segurança e conformidade que condicionam qualquer intervenção elétrica; a próxima seção descreve requisitos normativos e práticas que devem estar presentes na cotação.
Segurança e conformidade não são opcionais: são determinantes para autorizar a execução. A cotação precisa demonstrar como o serviço atende a NR-10, NBR 5410 e outras normas aplicáveis, como NBR 5419 para SPDA, quando pertinente.
Exigir comprovação de capacitação em NR-10 para todos os trabalhadores que atuarão na instalação. Treinamentos devem incluir práticas de trabalho seguro, análise de risco, uso de PPE e atendimento a emergência. A cotação deve listar qualificações, certificações e, quando aplicável, treinamento específico para trabalho em altura e em espaços confinados.
Descreva o procedimento de bloqueio e etiquetagem (lockout-tagout), sequência de seccionamento, aterramento provisório e verificação de ausência de tensão com instrumento calibrado. Inclua checklists para autorização de trabalho e exigência de Análise Preliminar de Risco ( APR) assinada antes da atividade.
Especifique pede-se: luvas dielétricas com selo de fabricante e classe adequada, vestimentas resistentes a arco elétrico (quando houver risco de arco de falha), tapetes isolantes, barreiras, sinalização e sistema de proteção coletiva para áreas com risco de exposição. A cotação deve considerar custo e substituição do PPE conforme uso.
Adote e cite a compatibilidade com NBR 5410 para exigências de projeto e manutenção de instalações elétricas de baixa tensão, e com NR-10 para medidas de segurança e procedimentos. Quando o empreendimento possuir SPDA, inclua conformidade com NBR 5419. Para geradores, transformadores e equipamentos de média tensão, indique conformidade com normas complementares e exigência de pessoal habilitado para média tensão.
Com as exigências de segurança declaradas, a cotação deve conter a lista de ensaios e inspeções que comprovem a efetividade das intervenções; a seção a seguir detalha quais testes solicitar e seus objetivos.
Ensaios técnicos demonstram que a manutenção atingiu os níveis de segurança e desempenho exigidos pelas normas. A cotação deve discriminar cada ensaio, metodologia, equipamento necessário e critérios de aceitação.
Objetivo: verificar integridade dielétrica de cabos e equipamentos. Equipamento: megôhmetro. Procedimento: testes fase-fase e fase-terra, com tensão de ensaio conforme fabricante e normas; registrar valores e comparar com limites mínimos aplicáveis (ex.: instalações de baixa tensão frequentemente adotam valores de referência ≥ 1 MΩ para trechos e equipamentos em operação — verificar especificação do equipamento e tensionamento de prova). Relatar temperatura de ensaio e procedimentos de descarga após teste.
Objetivo: garantir baixa impedância de retorno para funcionamento de dispositivos de proteção. Método: medição por Ohmímetro de baixa resistência; verificar conexões, pressões em bornes e integridade de emendas. Critério: resistência compatível com projeto e seccionamento previsto para correto funcionamento de proteção.
Objetivo: avaliar efetividade da malha de aterramento e eletrodos. Instrumentos: terrômetro por queda de potencial ou método de garra para condutores de proteção. Critérios: valores alvo dependem do sistema (TT, TN, IT) e da criticidade; como prática, buscar Rt abaixo de 10 Ω em instalações gerais, com metas mais restritivas para sistemas sensíveis. A cotação deve prever intervenções para correção caso valores excedam limites.
Objetivo: garantir que a impedância de falta permita desarme no tempo previsto; utilizar analisador de loop. A cotação deve apresentar cálculo comparativo entre Zs medido e Zs máximo admitido pelo dispositivo de proteção para o tempo de interrupção exigido por projeto ou norma.
Testar tempo de atuação e corrente residual de disparo nos diferentes tempos e condições para confirmar conformidade com requisitos de proteção contra choque elétrico. Registrar corrente residual de disparo e tempo de atuação.
Uso de termografia para detectar conexões aquecidas, sobrecarga em fases e pontos de perda de contato; ultrassom para detecção de corona e arcos parciais em média tensão. Incluir relatório com imagens, análises e recomendações de correção.
Quando aplicável, medir distorção harmônica, desequilíbrio de fase, flutuação de tensão e variações de frequência com analisador de qualidade de energia. Relatar conformidade com limites aceitáveis e propor ações (filtragem, balanceamento, correção do fator de potência).
Para transformadores: ensaio de relação de transformação, perda em vazio, resistência de enrolamento e, quando aplicável, DGA (gases dissolvidos) em óleo. Para motores: megômetro, resistência de enrolamento, ensaio de partida e vibração, lubrificação e alinhamento. A cotação deve prever ensaios rotineiros e intervenções corretivas.
Após definir ensaios, é necessário compor custos com precisão. A seguir, metodologia para formação de preço e exemplos práticos para orçamentação.
Compor preço exige transparência dos insumos: mão de obra, materiais, equipamentos especiais, deslocamento, testes, documentações e riscos. A cotação deve discriminar cada componente para facilitar comparações e autorizações.
Calcule horas por atividade com base em tempo padrão para tarefas (ex.: inspeção termográfica de um painel: 1 hora por painel; verificação de bornes e aperto: 30–60 minutos dependendo do número de circuitos). Defina equipe mínima (eletricista habilitado, auxiliar, encarregado de segurança) e aplique taxa horária por profissional. Considere horas adicionais para preparação, testes e elaboração de relatórios.
Liste quantitativos, perdas e sobressalentes. Inclua margem para aquisição urgente (peças críticas), prazo de reposição e substituição. Para itens críticos (disjuntores, transformadores), prever preço por peça e prazo estimado para troca.
Incluir custo de uso de equipamentos calibrados (megômetro, terrômetro, analisador de qualidade, termovisor) e, quando necessário, aluguel de equipamentos especiais ou contratação de laboratórios. Adicione custo de calibração e emissão de certificados, quando exigido.
Apresente valores de deslocamento, tempo de deslocamento produtivo, alimentação e eventual hospedagem quando serviço fora de base. Esses custos devem ser explícitos e justificados.
Adicione marcação (margem de lucro), impostos incidentes (de acordo com regime tributário) e provisão para contingência técnica (recomendado 10–20% sobre custo direto, dependendo do grau de incerteza). Explique bases de cálculo para transparência.
Suponha inspeção e manutenção preventiva de 5 painéis: 2 técnicos por 8h (16h) à R$ 60/h = R$ 960; deslocamento R$ 200; materiais (parafusos, conectores, guarnições) estimados R$ 300; testes e emissão de laudos R$ 400; margem e contingência 15% sobre total direto. Essa composição demonstra como justificar valores e identificar itens negociáveis.
Com valores e testes previstos, a cotação deve detalhar atividades por tipo de ativo; abaixo segue checklist técnico detalhado para orientar quantitativos e periodicidades.
 
Organizar as tarefas por ativo facilita estabelecer periodicidade e detectar necessidades específicas. A cotação deve listar cada item com periodicidade e critérios de aceitação.
Atividades: limpeza interna, verificação de aperto de bornes (torque conforme fabricante), inspeção visual de isolação, verificação de polaridade e continuidade, termografia, teste de DR, substituição de fusíveis e verificação de sinais de corrosão. Periodicidade: trimestral a semestral para instalações críticas; anual para inspeção completa. Benefício: evita aquecimento, falhas por contato e possíveis incêndios.
Atividades: exame visual, ensaio de resistência de enrolamento, relação de transformação, análise de óleo (em transformadores a óleo), verificação de buchas, limpeza de radiadores, montagem de monitoramento térmico. Periodicidade: semestral para inspeção visual; anual para ensaios elétricos; DGA conforme criticidade. Benefício: reduz risco de interrupção de carga e falhas catastróficas.
Atividades: teste de isolamento, medição de resistência de enrolamento, verificação de lubrificação, alinhamento e balanceamento, análise de vibração, inspeção de partida e proteções. Periodicidade: trimestral a semestral dependendo do ciclo de operação. Benefício: aumenta vida útil e diminui paradas não planejadas.
Atividades: medição de resistência de terra, inspeção de cabos e hastes, verificação de conexões, ensaio de continuidade, inspeção de captação e descidas de SPDA conforme NBR 5419. Periodicidade: anual para SPDA e semestral para instalações críticas. Benefício: protege vidas e equipamentos contra descargas atmosféricas e falhas de isolamento.
 
Atividades: verificação de fugas, teste de proteção diferencial, substituição de lâmpadas/ballasts, inspeção de pontos de consumo. Periodicidade: semestral ou anual conforme uso. Benefício: garante segurança contra choques e redução de risco de incêndio.
Além das tarefas técnicas, a proposta comercial e o contrato devem estabelecer direitos e obrigações, assegurando execução e mitigando riscos jurídicos; a próxima seção detalha esses elementos.
O contrato é extensão da cotação: deve assegurar que obrigações técnicas, de segurança e legais serão cumpridas, e definir penalidades e garantias.
Inclua obrigação de cumprimento de NR-10 e NBR 5410, apresentação de ART, fornecimento de relatório de ensaios e laudo técnico, limites de tolerância e critérios de aceitação. Preveja auditorias técnicas on-site e cláusulas de suspensão do serviço em caso de não conformidade grave.
Defina prazos de execução, tempo de resposta para emergências (ex.: SLA 4 horas para falhas críticas), e penalidades por atraso não justificado. Detalhe fluxos de aprovação para trabalhos adicionais e como será cobrado o serviço extra.
Estabeleça período de garantia dos serviços e peças, responsabilidades por danos consequentes e cobertura de seguro. Exija ARTs específicas para alterações que impliquem projeto.
Planta unifilar atualizada, memória de cálculo (quando houver alteração de capacidade), relatórios de ensaio, certificados de calibração de equipamentos de teste e comprovantes de treinamento da equipe. Esses anexos sustentam a aceitação técnica do serviço.
Operar com rapidez e previsibilidade nas emergências exige SLAs claros, estoque estratégico de peças e políticas de manutenção preditiva; detalhe a seguir como estruturar isso em cotação e contrato.
Estabelecer níveis de serviço evita exposição prolongada ao risco e minimiza impactos operacionais. A cotação deve indicar compromissos mensuráveis.
Classifique solicitações: crítica (parada de produção, risco de vida), alta (risco de dano significativo), média (manutenção preventiva não crítica), baixa (melhorias e melhorias planejadas). Para cada nível, defina tempo máximo de resposta e tempo de resolução estimado.
Recomende lista de peças críticas de reserva (fusíveis, disjuntores, conjuntos de bornes, DRs) com prazo de reposição máximo. A cotação pode incluir opção de contrato com reposição de estoque sob demanda.
Ofereça pacote de monitoramento contínuo com termovisão periódica, analisador de vibração para máquinas rotativas e análise de qualidade de energia para detectar anomalias antes da falha. A cotação deve apresentar cronograma de medições, acompanhamento por indicadores e plano de ações preventivas.
Por fim, sintetizamos os pontos críticos de segurança e definimos próximos passos práticos para a contratação responsável de serviços elétricos.
Resumo conciso: a cotação manutenção elétrica deve priorizar segurança e conformidade, detalhando escopo, ensaios, documentação de responsabilidade técnica, procedimentos de bloqueio/etiquetagem, uso de PPE, e testes que comprovem integridade elétrica (isolamento, continuidade, impedância de terra e termografia). A transparência de custos e a discriminação de hipóteses minimizam litígios e custos posteriores.
Próximos passos recomendados e acionáveis:
Tomando essas medidas, a cotação se transforma em instrumento de gestão de risco e continuidade operacional. Para decisões contratuais, priorize empresas que comprovem responsabilidade técnica, práticas seguras e clareza na apresentação de custos e ensaios — isso reduz a probabilidade de incidentes, garante conformidade normativa e otimiza o custo total de propriedade da instalação elétrica.